domingo, 20 de abril de 2014

Por quê? Opus #1


É necessário calar-se e admirar. Apenas admirar.
Admirar com os olhos baixos, com resignação.
Aceitar tudo, até além do que me cabe,
envolto na calma,
com a alma nas mãos.
Oferecê-la.

Acima de tudo, 
oferecer minha paz, 
minha gratidão.
Que não se esgotam
enquanto bater, por você,
no meu peito,
até mais 
que o meu coração.
Assim é ele. Assim é o Amor.
Ele sou eu,
a pulsar, a amar, 
enquanto há,
a esperar.

Não haverá lamentos.
Nem tempo perdido.
Assim se espera,
Assim esperamos.

Por quê?


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Fim da Solidão

Hoje acordei bem cedo
e me lembrei
que sonhei.

No sonho eu era eu mesmo

e conversava com um poeta
cujo semblante se parecia, fora do sonho, 
com aquele do maior de todos,
mas que, no sonho, era aquele
que se parecia com o do meu pai.

Nada neste sonho me tirou o sono,

nem mesmo a solidão
que estava, 
mais uma vez, 
entre tantas noites, 
bem ali ao meu lado.

Mas é boa companhia,

pois me dizia, 
pela boca do poeta,
que eu já estava 
bem acordado.



quarta-feira, 9 de abril de 2014

9 de Abril

Um ano já se passou
desde que, então,
um ato atônito,
nesta noite sem sentido,
uma decisão calcificante,
uma maldição maldita,
mas em verdade,
desprovida
de qualquer maldade,
rasgou o tecido
mais fino e precioso
que revestia a minha
transitiva, amorosa,
e, um tanto,
de mim,
distanciada alma,
venerável verdade.

Uma alucinação e, ao mesmo tempo,
uma realidade alienada,
que fez emergir um ato
paradoxal,
quase uma loucura sem volta,
quase um salto mortal.

Mas foi também nas imediações desta data,
como efeito, não como causa,
supostamente nefasta,
que o abraço mais apertado, mais doce,
mais distante no tempo,
retomou a sua
inconfundível força.
Sua natural esperança.

Foi logo após,
por tudo aquilo que acontecia,
por, ou não, por ironia,
que o  mais intenso desejo,
retomou a sua essência,
a sua alma única,
fundida na outra,
como sempre estaria.

De todas as noites vividas,
foi na noite seguinte,
o renascimento
do mais forte e demorado abraço,
que já,
despercebidamente,
tanta falta fazia...
...o mais profundo,
carinhoso e desesperado beijo.

Entre lágrimas,
a retomada
da noite
mais que entrelaçada,
mais amada e apertada,
que já pairava,
difusa, saudosa,
quase esquecida,
desamparada,
entre duas cidades,
entre duas estradas,
por outras vias.

Entre todas as facetas,
todas as façanhas,
da parte mais simples e bela
da minha complexa e discutível história,
foi nesta mesma noite
que percebi
o segredo e a finitude
daquilo que me parecia
deliberadamente manifesto
e completamente  infinito.

Mas também percebi,
em igual proporção,
um amor descomunal,
que parecia recomeçar.
Que parecia reativar o que era preciso.
Recuperar o que se havia perdido.
Que, de fato, poderia.

O que então se passou?
Um ano.

Um ano de quase solidão,
que se não fosse por aquele abraço,
entre lágrimas,
por aqueles beijos,

aquele momento,
desesperado e sublime da
mais valiosa esperança,

somente seria
da mais profunda e sombria
total compunção.

Afinal, por que tudo acontece?

Não sei.

Mas me parece
que por tudo
que acontece,
neste mesmo dia deste novo ano,
ainda estou aqui.