sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Seremos o nada de nós mesmos?


Mesmo os lugares, as situações, mais repletas e preenchidas de intenções, ações, vidas e esperanças não representam um refúgio seguro contra a nulidade. Se te espero, mesmo no lugar mais seguro e feliz, e você não vem, uma porção do nada irrompe no meu universo. Assim, é através das esperanças frustradas e das expectativas contrariadas que o nada se manifesta no mundo. Culpa da minha própria consciência. Uma angústia que, quando emerge, revela o nada. E traz uma vaga sensação de não estar à vontade no mundo. Do que temos medo em nossos momentos de saudade (e ansiedade)? Eu diria, do nada! Pois, nossa existência, as vezes, parece ter saído do abismo do nada para retornar ao nada após toda uma vida. Por isso, o nada, mesmo que não exista, nos assombra. A sua possibilidade é uma espécie de força aniquiladora que tenta sugar as coisas para a não existência. Sem mim mesmo, eu já não existiria. Mim mesmo? Nós mesmos? De certa forma, eu igual a nós?

Mesmo que eu e/ou você queira(mos),  já não existo mais sem mim e você, pois foi com você que passei a existir da forma mais nítida e profunda para mim mesmo. Fato nosso, demais ninguém. E quanto tempo a passar, a nos levar na direção do nada de nós mesmos, daquilo que fomos, que somos, que talvez não seremos?

Tanto ou pouco tempo? Desse modo, o fato de eu ainda rejeitar o nada é quase inteiramente uma meia questão, pois é impossível transfigurar algo, que foi quase absoluto, em nada. Um quase supremo e infalível, insubstituível, sempre existente Amor. Absoluto se não fosse por um único e irremediável erro, um afastar-se de mim mesmo, de quem eu era e sou de fato. 

Afastei-me de mim mesmo por um minuto e recebi a merecida e infinita distância, o impulso que me lançou para fora de tudo, na direção do nada. O nada que mereço: a sua sempre, e agora abstraída, tão desejada presença. 

Bú afastou-se de si mesmo e foi conhecer o nada. Retornou a si mesmo e descobriu que o nada não é uma coisa ou algo que seja. Mas o nada, ainda assim, é um “buraco no coração do ser”, um substantivo, uma falta intransponível, intratável, incomensurável. 

O que afinal nos salva é a percepção, lúdica ou hiper-realista, de que se trata de uma sensação recíproca. Uma elástica e inquebrável conexão. Por isso, já não tenho dúvidas que te receberia imediatamente. De volta ao coração de onde você nunca partiu, pois a cor dos nossos olhos são as mesmas, nossos cheiros assim também o são, uma unidade indivisível a desafiar para sempre todas as outras existências, ausências e a angustia impertinente e sem sentido de sermos nós inseparáveis diante do nada de nós mesmos.



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