Minha querida. Pessoa cujo
sorriso tão franco e belo, me faz feliz entre a tempestade que vem e que passa. Um
coração que tocou o meu, mesmo ainda ferido, mas quase curado. Uma poesia de
vida, uma respiração de futuro e alegria. O que dizer, que possa ir além das
suas palavras? Seu desabafo é verdadeiro, é o dia, a luz que ilumina tudo por
aqui agora, o tempo no presente. É aquilo que tenho em mim. Talvez a única
verdade que tenho em mim agora: a sua sinceridade, o seu carinhoso relato, o seu desabafo.
Escrevo agora com o coração
quase nas mãos, mas sem dramas. Escrevo aquilo que sinto, sem pedir, sem me sufocar de mim, quase sem sentir eu mesmo aqui, dentro e diante de mim.
Tenho tentado de todas as
formas, resgatar-me de um precipício que só eu sinto, que só eu entendo. Porque
ele é todo meu. Ele sou eu. Mas que, infelizmente, ainda não o conheço
como deveria. E deveria. Deveria conhecer os seus detalhes, as suas entranhas, degraus e apoios para poder erguer a cabeça, me apoiar, me
impulsionar e enfim subir e voltar. Voltar para mim mesmo. Mas a cada dia,
enquanto me surpreendo com tantas coisas que faço por devoção, interesse e paixão, me
deparo com um cansaço mutilador, que me abate a partir da alma que não se
acalma, que não aceita uma realidade tão dura, tão injusta, tão estranha
e perturbadora. Tão incômoda e dilacerante. Tão desproporcional no tempo, no
espaço e nas suas intenções.
Olho no espelho e não
compreendo o que somos. O que sou. Não encontro meu contorno tão familiar, delineando mais
que o meu corpo, mas principalmente a borda da minha alma ferida, macerada, ainda estremecida. Que já não
descansa, não conhece mais um lugar, um desejo, um sentimento de amor e de paz.
Tento lutar com todas as minhas forças: físicas, mentais, intelectuais e
espirituais. Encontro e empunho armas poderosas que reconheço, mas que já não sei
mais usar. No âmago de tudo, estou encontrando uma única resposta, uma
única saída. Reconhecer que de fato não mereço coisa alguma. Pessoa
alguma. Não mereço. Por isso, diante desta única realidade que me resta,
entendo o que o meu coração pede, com insistência latente e perseverante: ir
embora. Ir embora para um ponto de equilíbrio, para um referencial de onde tudo
que avistamos e sentimos já não tenha mais importância. Não perturbe, não
destrua aquilo que está bem. Ir para um ponto onde se possa sentir apenas o
deleite de um quase silêncio, um sussurro de uma brisa refrescante no rosto, e
isso seja quase tudo. Onde tudo é quase nada. O ponto fora do tempo do amor. Antes e Depois do Amor.
Antes e depois do amor, eu não mereço mais do que o
quase nada. Embora seja do meu íntimo perceber que vivi e ainda vivo, daquilo
que pensei ter construído e perpetuado, embora sem perfeição, mas com muito
esforço, amor, ternura e dedicação. Mas, afinal, de que vale tudo isso? O
que é uma vida comparada a uma outra? O que é uma lágrima comparada a uma
outra? O que é um sorriso comparado a um outro; Um outro sorriso, uma outra
lágrima, uma outra vida? De que me adianta tanto conhecimento, tanta erudição
sobre a minha própria história, tanta lucidez sobre eu estar aqui e agora? De
que me adiantaria tantos antídotos, tantos remédios, se já não sei se suportaria
o gosto e que por isso já não sei se suportaria ingerir? Já não sei se quero me
curar de tudo. Ou se prefiro parar diante de tudo e protestar apenas com um
sorriso de eterna despedida.
A ideia de compreensão está
desgastada. Ultrajada. Ninguém nunca compreenderá ninguém, nem a si mesmo. Cada
pessoa é apenas uma aposta. Um protótipo de quase SER distanciando-se
aleatoriamente do quase NADA. Uma falácia do acaso. Um fluído que passa
pelo ralo da vida levando junto tudo aquilo que quer, e tudo aquilo que não
quer. Mesmo sem dramas, tudo está aqui nos preenchendo, nos acirrando. Paixões,
amores, carinhos, promessas, olhares, entregas e compromissos. Uns são
mais sentimentais. Outros menos. Mas quem não viveu, não vive e não viverá um
grande amor? Por que em uma mesma vida é permitido repartir coisas que são
tão íntimas entre apenas duas pessoas? Por que a promiscuidade, o egoísmo, o
oportunismo que mesmo sem querer, confronta e compara pessoas, pode decidir trocar uma vida por outra, quando tudo é tão humanamente sincero, tão bom, tão forte e, acima de tudo, sagrado? Por que somos assim? Por que somos, as
vezes, vulgares e descomprometidos diante daquilo que assumimos cuidar? Para
arriscar-se a outro cuidado? Mas é assim que cuidamos antes, de nós mesmos?
Perdi minha fé na força de uma
paixão. Pois ela que, conseguiu me transformar um dia em alguém novamente muito
feliz, possui agora uma essência que me confunde, que até ameaça me destruir,
se eu resolver acreditar piamente em tudo. E eu não tenho outra saída. Tenho que acreditar
naquilo que vejo e que transpassa o meu olhar, penetrando a minha realidade.
Definitivamente, eu não te
mereço. Eu não mereço ninguém. Você sabe o que quer. Está aqui agora renovada
para isso. E não merece alguém que está caminhando para o ponto distante. E eu,
sem opção, estou. Não há como fazer melhor para sentir. Melhorar ou piorar uma emoção que ainda não se explica. Tento de todas as formas,
mas os meus movimentos de tentativa já começam a relaxar. Estou em relaxação
contínua até o ponto de equilíbrio. Onde pretendo parar. Parar e, quem sabe,
contemplar muito ao longe tudo aquilo que fui e que não fui. Tudo aquilo que
vivi e que também apenas sonhei. Tudo aquilo que compreendi e também tudo aquilo que não
entendi. Como ainda não entendo a falha que parece inacabada, prolongada, a desafiar o tempo, prometendo nos amedrontar eternamente. Não consigo me livrar da expectativa plantada em meu coração. Ela parece querer, sem admitir, sem talvez ter consciência, fazer perdurar um enigma, uma tão aguardada renúncia e ao mesmo tempo secreta revelação, quando já não quero mais me dispor às incertas surpresas. Pois, já não me sacia a busca por aventuras
pequenas, pueris, dos jogos e risos, potencializados pelo não enfrentamento dos medos. Agora só espero pelas verdades cruas e diretas, mas que sejam de dentro para fora. Até o fim. Pelo sétimo selo. A marca da vida que, de fato, nos proporciona a chance de participar de forma intrépida, madura e lúcida dessa grande aventura, respeitando todos os reais obstáculos, que entre o silêncio, a calmaria e as tempestades, podem fazer da vida
algo maravilhoso.
Portanto, ao final e diante de
tudo que me entristece de forma ainda incompreendida, eu me desculpo com a
vida. Pela minha ignorância de não compreender. Pela limitação do meu SER que,
de fato, ainda não o é.
Eu aprendi que dizer "eu
te amo" é sempre pra valer. Que se amamos a ponto de dizer, é porque tal
amor deveria ser o mais forte, o mais verdadeiro, o mais digno de todos os
sentimentos. Digno de tudo que é vital e pacífico, bem aventurado, calmo e
prudente. Generoso. Nunca egoísta. Dar-se ao outro pelo outro, sem querer nada em troca, doar algo que
esteja pronto e livre. É assim a verdade. A essência de tudo o que está na Terra,
no Universo. As estrelas estão lá, são reais, mesmo quando não queremos acreditar. Mesmo que não estivéssemos aqui.
Se não fosse assim, os resultados da realidade seriam inertes ou seriam sempre mais negativos que positivos.
Falsos, passageiros, arriscados, disfarçados, fantasiados para um carnaval que
apesar de alegre sempre dura muito pouco.
Me ajuda, pois estou sozinho. Agora eu acredito que
estou. E isso é um fato que pode ser benéfico e verdadeiro. Uma ponte que me
traga de volta para aquela calmaria que não era um ponto entre o antes e o depois. Era, de certa forma,
você e a sua infinita ternura. O único e certo, novo e doce sorriso, do qual nascia um novo amor que, pela força do meu egoísmo, foi injustamente interrompido.