É desnecessário tentar
manter, ou não,
uma conexão que
por si mesma
é indestrutível em sua substância e origem.
Seu âmago, seu “axis”
quase indecifrável,
inexplicavelmente, perdurará.
Persistirá, apesar das
forças
de ação ou reação que atuarão
eternamente sobre ela.
Seja de forma ungida ou
profana,
suave ou dilacerante,
factual ou utópica.
Aquilo que passou a existir
por amor,
há de permanecer.
Pelo amor permanecerá.
Nenhum outro estrondo será
tão intenso,
nenhum outro silêncio será
tão profundo.
Nenhuma outra união, tão
concreta.
Pois que nenhuma outra
conexão será perpétua.
E de onde advém tamanha
certeza?
Talvez do fundo de cada
olhar, de cada pergunta,
de cada secreta pronuncia
envolvida
nessa utopia mais que
utópica,
mais que verídica.
Ismicídio Utópico.
"Decifra-me ou eu te
devoro".
Eis a relevância da
palavra.
Palavras foram criadas para
serem verdadeiras.
Criar uma palavra que não
existe:
Um paradoxo utópico do tipo
“repto”.
Assim, tal utopia
só é possível pela
transgressão, pela ousadia.
Pelo talento nato de criar o que se parece
aproximadamente inconcebível.
O prazer de devanear
utopias. Delitos.
Ou pela própria
incrível e genial
utopia
quando a partir dela
e por ela
intenciona-se criar
uma nova palavra,
em uma
terceira língua,
a partir de outras duas.
Além disso, cuja mescla será
para sempre
a morte de um nome em si
mesmo:
ISMI = nome (do turco)
CIDIUM = ato de suprimir a
vida (do latim)
Ao criar algo que
por definição simultaneamente se suicida
determina-se também
uma autêntica nova utopia.
Daí: Ismicídio Utópico. Pura, engenhosa e
assombrosa concepção. Arte. Suntuosa e drástica delícia,
como degustar
uma pequena framboesa
já em fragmentos
a caminho do estômago.
Mesmo em sendo
essencialmente uma utopia,
decide-se por mantê-la íntegra e saborosa.
Vivê-la,
de forma derradeira,
perante a legítima vida.
E legitimá-la será tentar
eternamente
percebê-la.
Atingí-la e tocá-la.
Sentí-la como tecido real, físico.
Nesse sentido, a utopia,
por ser utopia,
será sempre uma trilha.
Nunca o lugar que almejamos alcançar.