domingo, 24 de novembro de 2013

Terapia para um par de palavras


É desnecessário tentar manter, ou não, 
uma conexão que
por si mesma 
é indestrutível em sua substância e origem.
Seu âmago, seu “axis” 
quase indecifrável,
inexplicavelmente, perdurará.
Persistirá, apesar das forças 
de ação ou reação que atuarão
eternamente sobre ela.
Seja de forma ungida ou profana,
suave ou dilacerante, factual ou utópica.
Aquilo que passou a existir por amor, 
há de permanecer.
Pelo amor permanecerá.
Nenhum outro estrondo será tão intenso,
nenhum outro silêncio será tão profundo.
Nenhuma outra união, tão concreta.
Pois que nenhuma outra conexão será perpétua.
E de onde advém tamanha certeza?
Talvez do fundo de cada olhar, de cada pergunta,
de cada secreta pronuncia envolvida
nessa utopia mais que utópica,
mais que verídica.

Ismicídio Utópico.

"Decifra-me ou eu te devoro".

Eis a relevância da palavra.
Palavras foram criadas para serem verdadeiras.
Criar uma palavra que não existe:
Um paradoxo utópico do tipo “repto”.
Assim, tal utopia
só é possível pela transgressão, pela ousadia.

Pelo talento nato de criar o que se parece 
aproximadamente inconcebível.
O prazer de devanear utopias. Delitos.

Ou pela própria
incrível e genial utopia 
quando a partir dela 
e por ela
intenciona-se criar
uma nova palavra, 
em uma terceira língua,
a partir de outras duas. 
Além disso, cuja  mescla será 
para sempre
a morte de um nome em si mesmo:

ISMI = nome (do turco)
CIDIUM = ato de suprimir a vida (do latim)

Ao criar algo que
por definição simultaneamente se suicida
determina-se também uma autêntica nova utopia.
Daí: Ismicídio Utópico. Pura, engenhosa e 
assombrosa concepção. Arte. Suntuosa e drástica delícia,
como degustar 
uma pequena framboesa 
já em fragmentos 
a caminho do estômago.

Mesmo em sendo essencialmente uma utopia, 
decide-se por mantê-la íntegra e saborosa.
Vivê-la,
de forma derradeira, 
perante a legítima vida. 
E legitimá-la será tentar 
eternamente 
percebê-la. 
Atingí-la e tocá-la.
Sentí-la como tecido real, físico.
Nesse sentido, a utopia,
por ser utopia,
será sempre uma trilha. 
Nunca o lugar que almejamos alcançar.


2 comentários:

  1. A coisa mais legal que você já escreveu pra mim. A leitura mais bonita que alguém poderia fazer de mim. Se o objeto observado vale mais aos olhos do observador do que aos do criador, é natural que eu passe a gostar ainda mais da minha criação depois dessa análise que mais parece uma obra de arte. Merci!

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    1. Te perceber...
      ...deveras ininterruptamente.
      Só agora eu percebo o quanto fui ignorante de você.

      C'est moi qui devrait vous remercier.

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